SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT 48562h

“PROPRIEDADE” 195pa

Trabalhador escravizado resgatado em Minas havia sido tatuado com iniciais dos patrões como feito em animais 4t624r

Dois trabalhadores domésticos foram resgatados de condições análogas às de escravo, em Planura (MG), envolvendo tortura, abusos sexuais e outras violências. Uma das vítimas, explorada por quase nove anos, teve o corpo tatuado com as iniciais “A.J”, que seriam de dois dos três patrões, como forma demonstrar que o consideravam uma “propriedade”. Os trabalhadores haviam sido aliciados pelo Facebook e pelo Instagram. Também foi encontrado um caso de trabalho infantil.

A operação foi conduzida por auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, procuradores do Ministério Público do Trabalho e agentes da Polícia Federal entre os dias 8 e 15 de abril. As vítimas foram retiradas da cidade e estão recebendo assistência das clínicas de enfrentamento ao trabalho escravo do Centro Universitário Presidente Antonio Carlos (Unipac) e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

“A operação alcançou duas vítimas submetidas a um processo de coisificação e dominação extremamente hediondo, em que a violência da submissão ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas foi agravada por relatos de abusos físicos, sexuais e psicológicos sistemáticos, impondo a elas um ambiente de exploração e controle absoluto”, afirmou o auditor fiscal do trabalho Humberto Camasmie e coordenador da operação, ao UOL.

Aliciamento pelas redes sociais 4bp3v

Os empregadores usaram as redes sociais para estabelecer contato inicial com pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e afetiva, oferecendo promessas falsas de trabalho e acolhimento. Eles se aproveitavam da confiança estabelecida em ambientes virtuais em comunidades LGBT+.

As investigações revelaram que o empregado doméstico, um homem homossexual, foi explorado por quase nove anos e era vítima de múltiplas violações: não recebia salário, não tinha registro em carteira, trabalhava em jornadas exaustivas sem férias ou descanso e vivia sob constante vigilância e ameaças. Os empregadores gravaram abusos sexuais, e os vídeos eram usados como instrumento de chantagem e controle emocional. Em uma das gravações, ele aparece nu, com grampos presos ao corpo, enquanto os patrões assistem e tocam música ao fundo. Outro vídeo mostra uma tentativa de enforcamento. Também foi documentado um episódio em que foi obrigado a comer as próprias fezes após ter seu ânus mutilado e costurado de forma improvisada. As marcas físicas dessas violências foram periciadas e fotografadas.

“A tatuagem também representa um perverso indicador da submissão à escravidão a que ele estava submetido, pois funcionava como sinal de posse, de controle sobre o corpo da vítima. A imposição da tatuagem, feita com o intuito simbólico de marcar a vítima como subordinada, reforça a condição de completa sujeição aos empregadores”, afirma o relatório de fiscalização. Depois, por ordem dos empregadores, o trabalhador cobriu a tatuagem com outro desenho.

A outra pessoa resgatada é uma mulher trans de nacionalidade uruguaia, também aliciada por meio das redes sociais. Em depoimento, ela relatou que, em julho de 2024, aceitou proposta de trabalho com salário de R$ 700 mensais. No entanto, do valor eram descontadas despesas de alimentação, moradia, internet e luz, restando-lhe cerca de R$ 100.

Ela trabalhou por seis meses para o trio, sendo que nos três primeiros viveu com eles sob medo constante de ser submetida às mesmas agressões que o outro trabalhador. Segundo ela, os patrões diziam que ele era “o escravo da casa”. De tanto estresse, ela teve um acidente vascular cerebral enquanto trabalhava no local.