Reportagem publicada nesta quinta-feira, 30, no jornal O Estado de S. Paulo, denuncia a não utilização de quase 10 milhões de testes do tipo RT-PCR, o mais indicado para o diagnóstico do novo coronavírus, que já foram comprados e recebidos. O problema é a falta de insumos necessários à realização dos testes, especialmente os reagentes. A desorganização e o descaso, assim, agravam o problema da subnotificação dos casos da doença, aprofundam a transmissão e custam vidas de brasileiros e brasileiras.
Conforme a matéria, o governo entregou, até o momento, 5 milhões de testes a estados e municípios. Outros 9,85 milhões de testes RT-PCR estão parados. Conforme o governo, o problema é a falta de insumos no mercado. Segundo o ministério da Saúde, o Brasil já realizou efetivamente 2,3 milhões de testes do tipo RT-PCR, sendo 1,4 milhão na rede pública. Foram feitos, ainda, outros 2,9 milhões de testes rápidos, que localizam anticorpos, mas não são indicados para diagnóstico. Uma das principais promessas de Jair Bolsonaro (sem partido) no início da crise epidemiológica no Brasil foi a aplicação de 46 milhões de testes. No dia 4 de junho, técnicos do ministério chegaram a projetar a realização de 110,5 mil testes por dia, mas a média diária em julho foi 15,5 mil exames diários.
O problema mais grave que dificulta o envio dos testes parados aos estados e municípios, conforme o governo, é a falta de reagentes. Porém, também foram entregues poucos equipamentos para coletar e armazenar amostras: apenas 1,6 milhão de cotonetes (swab) e 873 mil tubos de laboratório foram enviados, muito menos do que os 5 milhões de testes.
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Baixa testagem em comparação com outros países e subnotificação
Conforme o site Wordometers, que atualiza diariamente os dados do novo coronavírus em todo o mundo, o Brasil é o segundo país com mais casos (2,5 milhões) e o segundo com mais mortes (90 mil), mesmo com baixo índice de testagem. Em relação ao número de testes por milhão de habitantes, somos o 62º colocado, atrás, inclusive, de países com populações maiores, casos da China e dos Estados Unidos.
A subnotificação é comprovada por pesquisas científicas, como a quem vem sendo desenvolvida desde o início da pandemia pela Universidade Federal de Pelotas. No Rio Grande do Sul, dados divulgados nessa quarta-feira, 29, projetam que há 108.716 moradores do estado que têm ou tiveram o vírus, enquanto que os casos confirmados pelo governo totalizavam 62 mil na terça-feira. Nacionalmente, a mesmo pesquisa está interrompida pela desistência do ministério da Saúde em financiá-la, mas os últimos dados, de 2 de julho, projetava até 8 milhões de casos naquele momento, quase um mês atrás, quando os casos confirmados eram menos de 1,5 milhão.
Contra recomendações técnicas, ministro insiste em compra de medicamentos sem comprovação científica
Enquanto falta investimento para a compra dos materiais necessários à testagem, prejudicando o enfrentamento à pandemia no país, o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, insiste na compra de medicamentos sem comprovação científica de eficácia. Apesar de advertências até mesmo de técnicos do próprio Ministério e das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Pazuello mantém a compra crescente de cloroquina, como sempre defendeu Jair Bolsonaro, à revelia de estudos científicos.
Trabalhadores essenciais lutam por testagem
O Sintrajufe/RS tem acompanhado e apoiado a luta de trabalhadores de diversas categorias por condições de trabalho que não coloquem a vida em risco.. Nesta semana, o Sindicato dos Metroviários do Rio Grande do Sul (Sindimetrô) obteve liminar determinando que a Trensurb realize a testagem dos trabalhadores e das trabalhadoras da empresa. Também na área da saúde a mobilização em defesa dos testes tem conquistado avanços: na última terça-feira, em audiência de mediação entre os trabalhadores e trabalhadoras da saúde e as entidades patronais, a desembargadora Ana Luiza Heineck Kruse, integrante da Seção de Dissídios Coletivos do TRT4, e o Ministério Público do Trabalho, propam, entre outras medidas, a aplicação do teste RT-PCR em todos os profissionais da saúde que prestam serviços nos hospitais e unidades de atendimento relacionados pelos requerentes na petição que consta neste procedimento .