SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT 48562h

16ª ABORDAGEM 1y44k

Escritor Jeferson Tenório denuncia racismo em reiteradas abordagens policiais 6m6w29

Nesta semana, o escritor Jeferson Tenório, conhecido e premiado por obras como “O Avesso da Pele” e “Estela sem Deus”, publicou um texto em seu perfil no Instagram relatando a 16ª abordagem policial que já sofreu. Jeferson denunciou como um caso de racismo o ocorrido, quando estava acompanhado de um fotógrafo do jornal The New York Times – branco – no Parque da Redenção, em Porto Alegre.

Em seu relato, o escritor conta que, enquanto estavam no parque para uma sessão de fotos, uma viatura da Brigada Militar aproximou-se e os policiais desceram do carro apontando as armas e mandando que colocassem as mãos na cabeça. Revistaram os dois e, em seguida, deram explicações, todas dirigidas ao fotógrafo: “Disseram que fomos abordados porque receberam uma denúncia de que havia um traficante com as nossas características (?) Perguntaram apenas para o fotógrafo se ele já tinha sido abordado naquele parque, ele disse que não”.


Os livros de Jeferson Tenório, que vêm sofrendo ataques e tentativas de censura, tratam justamente do problema do racismo no Brasil, em suas diferentes facetas. “O Avesso da Pele” foi, inclusive, objeto de debate no primeiro encontro do Grupo de Leitura Antirracista do Sintrajufe/RS, no dia 1º de julho.

Veja abaixo o relato completo publicado no Instagram do escritor: 2z6i

No dia 25 de março deste ano sofri minha 16° abordagem policial. Refleti muito se deveria expor mais este caso, pois sempre existe um desgaste emocional e pessoal.

A abordagem ocorreu em Porto Alegre, por volta das 17h. Na ocasião, eu estava recebendo um fotógrafo do The New York Times em minha casa para uma sessão de fotos para uma matéria sobre meu livro O Avesso da pele.

Em dado momento o fotógrafo achou que seria bom fazer umas fotos ao ar livre. Foi quando sugeri o Parque da Redenção.

Ao chegarmos, o fotógrafo lembrou que no parque havia uma imagem que lembrava um símbolo nazista, e que no ano ado ele havia feito uma matéria sobre esses símbolos no Brasil. Eu disse que não conhecia essa imagem. Ele perguntou se eu queria ver antes de tiramos as fotos. Aceitei.

Quando chegamos próximo do símbolo, vi a imagem que de fato lembrava uma suástica. Foi nesse momento que uma viatura da Brigada Militar parou atrás de nós. Os policiais saíram apontando as armas com frases de mão na cabeça.

Sob a mira da arma, fomos revistados. Neste momento comecei a suar frio e fiz um esforço para manter minhas mãos na cabeça, fiquei nervoso pois todas as imagens de violência policial que tanto critico, estava novamente acontecendo comigo.

Mandaram baixar as mãos lentamente, a partir desse momento todas as explicações da abordagem foram dadas para o fotógrafo, que era um homem branco. Fui ignorado como se não merecesse a explicação.

Disseram que fomos abordados porque receberam uma denúncia de que havia um traficante com as nossas características (?) Perguntaram apenas para o fotógrafo se ele já tinha sido abordado naquele parque, ele disse que não. Foi quando o policial respondeu que a abordagem servia para proteger o cidadão de bem. E se gente não devia nada, íamos ser liberados.

Depois entraram no carro e foram embora.

Ficou claro, na avaliação da polícia, que eu seria um traficante e o fotógrafo o usuário.
Toda a abordagem aconteceu na frente do suposto símbolo nazista. Tudo tão inacreditável. Tão triste, eu estava tirando fotos para uma reportagem sobre meu livro que, entre outras coisas, é sobre a violência policial. E é nesse momento que sou abordado.

Foto: Eduardo Beleske/PMPA