Nesta segunda-feira, 31, entregadores e motoristas de aplicativos continuam mobilizados em diversas cidades do Brasil, incluindo Porto Alegre e o estado do Rio Grande do Sul, em uma paralisação nacional em busca de remuneração justa e melhores condições de trabalho.ASP
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Em Porto Alegre, cerca de 200 motociclistas e motoristas de aplicativo se uniram em uma manifestação, realizando uma motociata, que iniciou na cidade de Canoas, e que percorreu importantes vias da capital até o hub do iFood no shopping Praia de Belas. A mobilização teve o apoio de entidades como o Sindicato dos Motociclistas e Ciclistas Profissionais do RS (Sindimoto-RS), o Sindicato dos Motoristas de Transporte Individual por Aplicativo do RS (Simtrapli-RS) e a Associação Liga dos Motoristas de Aplicativos do RS (Alma-RS). A manifestação não se concentrou em uma única plataforma de aplicativo, mas abrangeu todas as empresas do setor, com o objetivo de pressionar as companhias pelas suas reivindicações.
Trabalham muito e ganham muito pouco 70175l
A principal reivindicação dos trabalhadores de aplicativos é um reajuste no valor das entregas, com uma taxa mínima de R$ 10 para corridas de até 4 km, além de um aumento para R$ 2,50 por quilômetro percorrido. No caso dos motociclistas, a demanda inclui a limitação das entregas realizadas com bicicletas a um raio máximo de 3 km e o pagamento integral das taxas por cada pedido, mesmo em entregas agrupadas na mesma rota.
Além disso, os trabalhadores apontam problemas relacionados ao tempo de espera para a liberação de pedidos, que, em alguns casos, ultraa uma hora, sem que esse tempo seja remunerado. Isso tem impacto direto no rendimento dos entregadores, já que a pontuação dentro das plataformas diminui, o que resulta em menos oportunidades de trabalho.
A presidente do Simtrapli-RS, Carina Trindade, destacou que, em nove anos de operação da Uber no Rio Grande do Sul, não houve nenhum aumento nas tarifas, o que leva os motoristas a enfrentarem uma jornada exaustiva para tentar garantir uma remuneração mínima. A situação dos entregadores de aplicativos tem se tornado cada vez mais difícil, com jornadas longas e perigosas, e a falta de e das empresas em casos de acidentes ou falecimentos.
Segundo a diretora do Sindimoto-RS, Gabriela Gonçalves, há uma série de demandas a serem cumpridas pelas plataformas, que, por sua vez, não estariam abertas ao diálogo.
“A ideia da manifestação é por esta visibilidade. Hoje, a taxa mínima de entrega é R$ 6,50, o que, diante dos reajustes, principalmente dos combustíveis, não paga o custeio dos trabalhadores, e faz com que eles tenham uma jornada de trabalho ainda mais cansativa e com elevado risco de acidentes”, comentou ela. O Sindimoto e demais representações sindicais pedem R$ 20. Há também o pedido para que o tempo de entrega seja melhor regulado.
Greve causou queda de até 100% nas entregas 5nc6l
A paralisação dos entregadores tem gerado reflexos significativos em diferentes cidades. Em São Paulo, a greve causou uma queda de até 100% nas entregas dos estabelecimentos, que dependem exclusivamente do iFood, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP). Para aqueles que utilizam várias plataformas, o impacto foi de 70% a 80% a menos no movimento de entregas, enquanto os estabelecimentos com frota própria de entregadores registraram um aumento de até 50% nas entregas.
Em Porto Alegre, o movimento teve a presença de trabalhadores de diversas cidades da Região Metropolitana, como Canoas, Gravataí e Cachoeirinha, e também impactou o funcionamento dos bares e restaurantes que dependem das plataformas para entrega de pedidos. A mobilização se estendeu para outros municípios do estado, como Lajeado, Santa Maria e Caxias do Sul, que também registraram protestos semelhantes.
Nesta terça-feira, a mobilização continua de maneira pontual, com orientações para que motociclistas desliguem suas plataformas. Enquanto isso, uma audiência de mediação entre as partes envolvidas deve ocorrer no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), localizado próximo ao hub do iFood em Porto Alegre. A juíza auxiliar da Vice-Presidência do TRT4, Luciana Caringi Xavier, recebeu representantes de ciclistas, motociclistas e motoristas. No encontro, a magistrada ouviu as demandas dos entregadores.
50 horas de trabalho rendem quanto? 5m6k20
Em julho de 2024, um levantamento realizado pela startup StopClub, e divulgado pelo portal Uol mostrou quanto ganham em média motoristas de aplicativos em dez capitais brasileiras. A pesquisa leva em consideração a receita bruta, os gastos mensais e as horas trabalhadas por esses profissionais.
No caso de Porto Alegre, por exemplo, com 50 horas semanais, um motorista recebe em média R$ 6.428,57, mas tem uma despesa de R$ 3.900,99. Assim, recebe, mensalmente, R$ 2.527,58. Veja abaixo a tabela com as capitais investigadas no levantamento. Há outros casos ainda piores, como Recife, onde o ganho líquido mensal médio é de R$ 1.148,27 com 50 horas semanais de trabalho.
Cidade | Receita Bruta | Gasto* | Ganho Líquido | Jornada semanal |
São Paulo | R$ 6.428,57 | R$ 3.926,96 | R$ 2.501,61 | 60 horas |
Rio de Janeiro | R$ 6.000 | R$ 3.585,69 | R$ 2.414,31 | 54 horas |
Belo Horizonte | R$ 6.428,57 | R$ 3.622,80 | R$ 2.805,77 | 54 horas |
Porto Alegre | R$ 6.428,57 | R$ 3.900,99 | R$ 2.527,58 | 50 horas |
Brasília | R$ 5.215,71 | R$ 3.895,07 | R$ 1.320,64 | 50 horas |
Recife | R$ 4.285,71 | R$ 3.137,44 | R$ 1.148,27 | 50 horas |
Salvador | R$ 5.142,86 | R$ 3.430,67 | R$ 1.712,19 | 54 horas |
Curitiba | R$ 5.785,71 | R$ 3.897,47 | R$ 1.888,24 | 56 hora |
Fortaleza | R$ 5.142,86 | R$ 3.195,34 | R$ 1.947,52 | 56 horas |
Goiânia | R$ 5.142,86 | R$ 3.101,36 | R$ 2.041,50 | 54 horas |
** Tabela com referência no período de junho de 2024
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil