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Desembargador do Paraná tira licença remunerada de 20 dias após dizer que “mulheres estão loucas atrás dos homens” 4d4k31

O desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) Luis Cesar de Paula Espíndola tirou uma licença especial remunerada uma semana após dizer em sessão da Corte, no dia 3, que “as mulheres estão loucas atrás de homens”. A manifestação ocorreu durante análise de pedido de medida protetiva para uma aluna de 12 anos que denunciou estar sendo assediada por um professor. Conforme o tribunal, a licença começa nesta quarta-feira, 10, e termina no dia 31 de julho. Esse tipo de afastamento remunerado é um benefício previsto no estatuto dos funcionários da Corte e não exige a apresentação de um motivo para ser desfrutado.

De acordo com o Portal de Transparência do TJ-PR, no mês de maio de 2024 – último disponibilizado no site –, o total de rendimentos de Espíndola foi superior a R$ 133,6 mil. Com os descontos, o rendimento líquido totalizou R$ 92.673,88.

Após o episódio vir à tona, o TJ-PR publicou uma nota pública do desembargador. Ele diz que “nunca houve a intenção de menosprezar o comportamento feminino nas declarações proferidas por mim durante a sessão da 12ª Câmara Cível do tribunal” e que sempre defendeu “a igualdade entre homens e mulheres, tanto em minha vida pessoal quanto em minhas decisões”. Em março de 2023, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou Espíndola à prisão por quatro meses e 20 dias, em regime aberto, por lesão corporal em contexto de violência doméstica contra a irmã e a mãe; a pena foi substituída por prestação de serviços à comunidade e ele retornou ao cargo.


CNJ apura conduta do desembargador 3a325u

Na última sexta-feira, 5, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu uma reclamação disciplinar contra o desembargador. A reclamação foi aberta pelo corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, em função de “discurso potencialmente preconceituoso e misógino em relação à vítima de assédio envolvendo menor de 12 anos”. Segundo o CNJ, Espíndola terá 15 dias para prestar informações sobre os fatos. O processo tramita em segredo de justiça.

O que foi dito na sessão da 12ª Câmara Cível 2h6y6

A 12ª Câmara Cível, presidida por Espíndola, é responsável por julgar casos de direito de família, união estável e homoafetiva. O caso analisado no dia 3, era medida protetiva, a pedido do Ministério Público, para uma aluna de 12 anos que sentiu assediada por professor de uma escola pública do interior do Paraná. O julgamento levou em conta mensagens com elogios enviadas no meio da aula para o celular da menina. O professor já havia sido investigado e absolvido na área criminal por suspeita de ter importunado a criança.

Por quatro votos a um, o colegiado decidiu manter a medida protetiva que proíbe o docente de se aproximar da vítima. O voto contrário foi do presidente. Ao justificar o voto, Espindola disse que não concordava com a atitude do professor, mas que não havia provas contra ele. “Muito embora essa conduta, né, para alguns não seja própria e eu até concordo que para mim não seria próprio, mas hoje em dia, a relação aluno e professor, sabe, a gente vê, não só… Lá é uma comarcazinha pequena, do interiorzão, todo mundo se conhece, sabe? É diferente de uma assim… de uma Curitiba da vida, sabe, ou de uma cidade maior”, disse Espindola.

Logo após o desembargador proclamar o resultado, a desembargadora Ivanise Trates Martins, que não fazia parte do quórum, se manifestou: “Nós, mulheres, sofremos muito assédio desde criança, na adolescência, na fase adulta, e há um comportamento masculino lamentavelmente na sociedade que reforça esse machismo estrutural, ou que hoje a gente chama de machismo estrutural, que é poder olhar, piscar, mexer, dizer que é bonitinha […]. Puxa esse jeitinho de fazer de conta que tá elogiando, mas que nós, mulheres, percebemos a lascívia quando os homens nos tratam dessa forma. E talvez os homens não saibam ou não tenham ideia do que uma mulher sente quando são tratadas com uma lascívia disfarçada. Nós sabemos, uma piscadinha, um olhar, quem sabe numa sala de aula, ou em qualquer outro lugar, extremamente constrangedor, extremamente constrangedor”, disse Ivanise.

Em seguida, o presidente da 12ª Câmara Cível voltou a se pronunciar: “Vem com o processo um discurso feminista desatualizado, porque se essa vossa excelência sair na rua hoje em dia o que quem tá assediando, quem está correndo atrás de homens são as mulheres, porque não tem homem, sabe? Esse mercado é um mercado que está bem diferente. Hoje em dia sabe o que o que existe, essa é a realidade as mulheres estão loucas atrás dos homens, porque são muito poucos sabe? Esse é o mercado… É só sair à noite, eu não saio muito à noite, mas eu conheço, tenho funcionárias, tenho sabe… tenho contato com o mundo. Nossa, a mulherada tá louca atrás do homem sabe? Louca para levar um elogio, uma piscada, sabe? Uma cantada educada, porque elas é que estão cantando, elas que estão assediando, porque não tem homem, essa é a nossa realidade hoje em dia, não só aqui no Brasil sabe? Isso é óbvio, né? Hoje em dia os cachorrinhos estão sendo os companheiros das mulheres, vai no parque só tem mulher com cachorrinho, louca para encontrar um companheiro para conversar e eventualmente para namorar. Agora a coisa chegou num ponto hoje em dia entendeu? Que as mulheres é que estão assediando, sabe? Não sei se vossa excelência sabe, professores de faculdade, sabe, são assediados. É ou não é, doutora? Quando sai da faculdade, ele deixa um monte de ‘viúva’, a gente vê, cansado de ver isso e sabe disso sabe? Então, tudo é muito, é muito, é muito pessoal, esse é um discurso que eu acho que está superado, sabe, as mulheres ninguém tá correndo atrás de mulher porque tá sobrando”.

O TJ-PR retirou do ar o vídeo da sessão em que o desembargador fez o pronunciamento sobre as mulheres. Conforme a cvorte, o material foi retirado para preservar as partes envolvidas, considerando que o processo tramita em segredo de justiça.

Com informações de G1 e Carta Capital