SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT 48562h

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Brasil tem 77% das mortes de gestantes e puérperas por covid-19 registradas no mundo; entre mulheres pretas, risco de óbito é duas vezes maior 646726

Estudo aponta que 124 mulheres gestantes ou que estavam no perí­odo do puerpério morreram de covid-19 no Brasil. Esse número representa 77% das mortes registradas no mundo. Ou seja, morreram mais mulheres grávidas ou no pós-parto no Brasil do que em todos os outros paí­ses somados. Outro estudo aponta que, no paí­s, o número de mulheres pretas grávidas mortas em decorrência da doença é o quase o dobro do registrado entre as mulheres brancas.

A primeira pesquisa, publicada dia 9 no International Journal of Gynecology and Obstetrics, foi feita por um grupo de enfermeiras e obstetras brasileiras ligadas a 12 universidades e instituições públicas. Elas analisaram dados de um sistema de monitoramento do Ministério da Saúde, o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe). Segundo as pesquisadoras, o número publicado no artigo, 124 mortes, já pode ter ado de 200 no final de julho.

O estudo publicado revela uma taxa de mortalidade de 12,7% na população obstétrica brasileira por covid-19, número superior às taxas mundiais relatadas até o momento. A maior parte das mortes aconteceram durante o puerpério, ou seja, até 42 dias depois do nascimento do bebê, e não na gestação, alerta a publicação. Para as pesquisadoras, o risco aumentado pode estar relacionado à imunodeficiência relativa associada a adaptações fisiológicas maternas.

Isso é decorrência de um já conhecido descaso com o atendimento a gestantes e puérperas. Morte materna é um evento sentinela, ou seja, indica a qualidade de saúde oferecida num paí­s. Por ano, o Brasil registra cerca de 60 mortes de mulheres grávidas ou no pós-parto por 100 mil nascimentos de bebês vivos, uma taxa considerada alta. Portugal e Argentina têm 8 e 39 mortes por 100 mil, respectivamente.

No total, 978 mulheres grávidas e no pós-parto foram diagnosticadas com covid-19 no Brasil durante o perí­odo do estudo. Como não existe uma polí­tica de testagem para esse grupo e apenas quem apresenta sintomas graves é testado, a pesquisa alerta para uma possí­vel subnotificação.

Mortes de mulheres pretas grávidas é o dobro do registrado entre mulheres brancas

Outro estudo, publicado pelo mesmo grupo, dia 28, na revista cientí­fica Clinical Infectious Diseases, mostrou que mulheres grávidas pretas têm quase o dobro de chance de morrer por covid-19 no Brasil do que as grávidas brancas.

Entre as mulheres brancas grávidas com covid-19, a chance de morrer da doença foi de 8,9%. Entre as pretas, a chegou a 17%, quase o dobro. As pesquisadoras usaram a classificação de cor da pele/raça do IBGE, levando em conta a autodeclaração das pacientes. As cientistas escolheram não incluir as mulheres autodeclaradas pardas na comparação; no IBGE, a classificação da cor da pele negra é a soma de pretos e pardos.

Para a cientista Débora de Souza Santos, uma das autoras do estudo e professora de Saúde Coletiva na Faculdade de Enfermagem da Unicamp, a razão por trás da disparidade é o racismo estrutural. “O racismo é um determinante estrutural da saúde. A mulher preta já acumula essas opressões todas: ela já morre mais, já tem menos o ao serviço de saúde. A pandemia só agrava o que já existe na sociedade”, explica Santos.

Além de terem mais risco de morrer, as mulheres grávidas pretas também tiveram o dobro de chance de precisar de ventilação mecânica em relação às brancas e também precisaram ser internadas na UTI com mais frequência (1,4 vezes a mais que as brancas). Para Santos, os dois í­ndices se devem ao fato de a mulher preta esperar mais tempo com os sintomas da covid-19 antes de procurar assistência médica. Quando procura, ela está em condição mais grave que as brancas.

A pesquisa mostra que, no momento da internação, 68,5% das mulheres pretas tinham a dispneia (falta de ar) como sintoma, comparado a 54,8% das brancas, cerca de 1,25 vezes mais. Além disso, 47,5% das mulheres pretas tinham saturação de oxigênio abaixo de 95%, comparado a 30,7% das brancas (1,5 vezes mais).

Ambos os estudos mostram a necessidade de investimento em saúde pública

No estudo mais amplo, sobre grávidas e puérperes, é apontado que 22,6% das mulheres que morreram não foram itidas na UTI e apenas 64% possuí­am ventilação invasiva. Além disso, não foi oferecido nenhum e ventilatório a 14,6% de todos os casos fatais. Esses dados sugerem que pacientes obstétricas podem enfrentar barreiras para ar ventiladores e terapia intensiva, indica a publicação, que também ressalta a escassez de profissionais de saúde e falta de recursos de terapia intensiva nos serviços de maternidade brasileiros.

Fatores como o atendimento pré-natal de baixa qualidade, falta de recursos para cuidados crí­ticos e de emergência, disparidades raciais no o aos serviços de maternidade, violência obstétrica e as barreiras adicionais colocadas pela pandemia para o o aos cuidados de saúde também são citados como motivos para a alta taxa de mortalidade no Brasil.

O Brasil vive um momento de calamidade, com mais de 90 mil mortos por covid-19, e os serviços públicos e o SUS nunca se mostraram tão fundamentais. No entanto, ao contrário do que deveria fazer, o governo Bolsonaro propões privatização da água e saneamento e de hospitais. Além disso, a emenda constitucional 95/2016, que congela investimentos públicos, apenas em 2019 foi responsável pela suspensão de rees de R$ 10 bilhões ao SUS.

Com informações de Folha de S. Paulo, UOL e G1.